Harry Styles monta seu acervo pessoal para a revista Another Man

O ACERVO DE Harry Styles

Pessoalmente organizado por Harry, este documento oferece uma descoberta preciosa dentro de seu mundo íntimo, revelando as obsessões, inspirações e relações que mais importam para ele…

Recomendações de leitura com Charles Bukowski, Hermann Hesse e poesia persa do século XIII. O tatuador cult Liam Sparkes compartilha sua linha de pensamentos sobre tatuagem. Presta homenagem em um mini santuário à mais turbulenta sacerdotisa do rock, Stevie Nicks. Na véspera de sua lua de mel, o pintor Tommo Campbell abre seu estúdio caótico. Cadernos surrados, marcas de batom, e uma velha camisa do Pink Floyd. Edward Sexton, o imperante rei da costura sob medida, tira as medidas de seu novo cliente. Pressione o play na compilação de cassetes contendo Elvis Presley, Paul McCartney e Crosby, Stills & Nash.




ACERVO 1: COLEÇÃO

De volta à sua casa em Londres, Harry ataca seu guarda-roupa e separa caixas para alguns tesouros escondidos. De botas desgastadas e livros cheios de orelhas à um casaco com mancha de batom vermelho, estes objetos estão cheios de memórias…



“Eu comprei estas (botas) em uma loja vintage enquanto estávamos fazendo tour em algum lugar na América. Eu me lembro do quanto as amava a medida que ficavam piores e mais surradas. Agora elas têm muitos furos mas eu não consigo jogá-las fora.” – Harry




“Eu estava saindo do café da manhã em Londres usando este casaco. Acho que a menina estava me mordendo. Ela era amável.” – Harry


“Encontrei esta camisa em uma caixa no fundo de uma loja. Ela está muito apertada, mas ainda a amo. Cresci os ouvindo com meu pai, ele sempre colocava suas músicas no carro. Amo apagar as luzes, sentar numa cadeira e ouvir “Dark Side Of The Moon” do começo ao fim. Na última tour houve umas boas seis semanas nas quais eu só ouvia esse álbum.” – Harry



“Eu apenas amo as imperfeições do vinil. Os arranhões e crepitações – você não acha mais isso em nenhuma outra coisa. Tem algo de aconchegante nisso. Acho que minha capa de álbum preferida é a Live Peace In Toronto 1969, do grupo Plastic Ono Band. É tão simples. É perfeita.” – Harry


“Um amigo me deu o livro “Sidarta”, de Hermann Hesse, quando começamos a viajar juntos. Faz muito sentido para mim. Acho que é um livro muito importante. No “O Amor é um Cão dos Diabos” eu apenas amo o jeito como Charles Bukowski usa a linguagem. É tão real, corajoso e obsceno, porém com algo tão romântico em tudo aquilo.”  – Harry



ACERVO 1: BIBLIOTECA

Harry folheia as páginas de seus livros prediletos – o de Charles Bukowski, O AMOR É UM CÃO DOS DIABOS, de Hermann Hesse, Sidarta, e a coleção de poemas do século XIII do poeta persa Rumi – e escolhe exatamente estes trechos…

O AMOR É UM CÃO DOS DIABOS

um poema quase feito

Eu te vejo bebendo em uma fonte com minúsculas
mãos azuis, não, suas mãos não são minúsculas,
elas são pequenas, e a fonte fica na França
onde você me escreveu aquela última carta e
eu respondi e nunca mais ouvi falar de você.
Você costumava escrever poemas insanos sobre
ANJOS E DEUS, todos em maiúscula, e você
conhecia artistas famosos e muitos deles
eram seus amantes, e eu escrevi de volta, tudo certo,
vá em frente, entre em suas vidas, não tenho ciúme
porque nunca nos encontramos. Nós chegamos perto uma vez em
Nova Orleans, uma meia quadra, mas nunca nos encontramos, nunca
nos tocamos. Então você se foi com famosos e escreveu
sobre os famosos, e, claro, o que você descobriu
é que os famosos estão preocupados com
sua fama — não com a bela garota jovem na cama
com eles, que dá pra eles aquilo, e depois acorda
de manhã para escrever poemas em letra maiúscula sobre
ANJOS E DEUS. Sabemos que Deus está morto, eles nos disseram,
mas ao ouvir você eu não estava certo. Talvez fossem as
maiúsculas. Você foi uma das melhores poetisas e eu disse aos editores,
“ela, edite-a, ela é louca mas é mágica.
Não há mentira em seu fogo.” Eu te amei
como um homem ama uma mulher que nunca toca, apenas
escreve para ela, mantém pequenas fotos dela. Eu teria
te amado mais se eu tivesse sentado em um pequeno quarto enrolando
um cigarro e ouvido você mijar no banheiro,
mas não aconteceu. Suas cartas ficaram mais tristes.
Seus amores te traíram. Criança, eu respondi, todos
os amores traem. Não ajudou. Você disse
que tinha um banco para chorar e ficava perto de uma ponte e
a ponte era sobre um rio e você sentou no banco
toda noite e lamentou pelos amores que te
machucaram e esqueceram. Eu te respondi mas nunca recebi
resposta. Um amigo me escreveu sobre seu suicídio
3 ou 4 meses depois de acontecido. Se eu tivesse te encontrado,
eu provavelmente teria sido injusto com você ou você
comigo. Foi melhor assim.

RUMI

Mathnavi, IV. 733

Música abre nossos corações e certamente devaneia

Com ecos que se derramam de esferas celestiais;

E fé muito além do imaculado molde do pensamento

Transforma a desagradável dissonância em mel trazido pelos anjos.

As crianças de Adão adaptadas e tão grosseiramente atadas

Ouvem com ele as canções dos anjos e suspiram sorridentes.

Nós lembramos delas, mesmo que indistintamente, enquanto contávamos histórias

Batidas de coração das doces almas originais aprendendo.

Ah, música alimenta as clamantes almas dos amantes,

Música eleva os espíritos de seus abrigos mundanos.

As cinzas crescem vigorosas e trocam de pele

Ouçam com a quietude que apenas as almas são capazes de compartilhar.

(Tradução: Equipe NiallHBra)

SIDARTA

Despertar

Enquanto Sidarta saía do bosque, onde permanecia o Buda, o Perfeito, onde também permanecia Govinda, sentia que deixara atrás, nesse recinto, toda a sua vida anterior, a qual daí por diante se separaria dele. Essa sensação que tomava conta do seu espírito preocupou-o durante a vagarosa caminhada. Sidarta refletia profundamente. Mergulhava até o fundo dessa emoção, assim como se mergulha na água, para alcançar-se o ponto onde repousam as causas. Pois lhe parecia que o verdadeiro pensar consistia no reconhecimento das causas e que, desse modo, o sentir se convertia em saber, o qual, ao invés de dissipar-se, criaria forma concreta e irradiaria o seu teor.
Enquanto lentamente avançava pelo caminho, Sidarta refletia. Verificou que já não era adolescente, senão homem maduro. Constatou que uma coisa se distanciara dele, assim como a pele gasta se despega da serpente e que ele cessara de sentir aquele desejo que o acompanhara através de toda a sua juventude, fazendo parte da sua personalidade; desejo de ter mestres e de receber ensinamentos. Sidarta acabava de abandonar o último mestre que surgira no curso da sua jornada; abandonara também a ele, o mestre supremo, o mais sábio de todos, o Santíssimo, o Buda. Fizera-se necessário distanciar-se dele. Já não fora possível aceitar os preceitos de Gotama.
Caminhando cada vez mais devagar, absorvido pelos pensamentos, Sidarta perguntou-se a si mesmo: “Mas que desejaste aprender dos teus mestres e extrair dos seus preceitos? Que será aquilo que eles, que tanto te ensinaram, não conseguiram propiciar-te?” E ele encontrou a resposta: “Era meu desejo conhecer o sentido e a essência do eu, para desprender-me dele e para superá-lo: Porém não pude superá-lo. Apenas logrei iludi-lo. Consegui, sim, fugir dele e furtar-me às suas vistas. Realmente, nada neste mundo preocupou-me tanto quanto esse eu, esse mistério de estar vivo, de ser um indivíduo, de achar-me separado e isolado de todos os demais, de ser Sidarta! E de coisa alguma sei menos do que sei quanto a mim, Sidarta!”
Como que agarrado a esse raciocínio, o moço interrompeu a lenta caminhada e de um pensamento nasceu outro, diferente: “O fato de eu não saber nada a meu próprio respeito, o fato de Sidarta ter permanecido para mim um ser estranho, desconhecido, tem sua explicação numa única causa: tive medo de mim; fugi de mim mesmo! Procurei o Átman, procurei o Brama, sempre disposto a fraturar e apelar o meu ‘eu’, a fim de encontrar no seu âmago ignoto, o núcleo de todas as cascas, o Átman, a vida, o elemento divino, o Último. Mas, enquanto fazia isso, perdi-me a mim mesmo.”
Abrindo os olhos, Sidarta olhou ao seu redor, com o rosto iluminado por um sorriso. Perpassava-lhe pelo corpo, até aos dedos dos pés, a profunda sensação de ter acordado de um sonho prolongado. Em seguida, reiniciando a sua marcha, estugou o passo, como quem sabe o que lhe convém realizar.
“Ah, não!” – pensou, aliviado, respirando a plenos pulmões – “daqui em diante não admitirei nunca mais que Sidarta me escape! Nunca mais o meu pensar e a minha vida terão por ponto de partida o Átman e o sofrimento do mundo! Cessarei de matar-me e de fraturar-me, com o intuito de achar um mistério atrás dos destroços. Não me deixarei orientar nem pelo Yoga-Veda, nem pelo Atarva-Veda, nem por ascetas, nem por doutrina alguma. Aprenderei por mim mesmo; serei meu próprio aluno; procurarei conhecer-me a mim e desvendar aquele segredo que é Sidarta!”
Olhou o mundo a seu redor, como se o enxergasse pela primeira vez. Belo, era o mundo! Era variado, era surpreendente e enigmático! Lá, o azul; acolá, o amarelo! O céu a flutuar e o rio a correr, o mato a eriçar-se e a serra também! Tudo lindo, tudo misterioso e mágico! E no centro de tudo isso achava-se ele, Sidarta, a caminho de si próprio. Todas essas coisas, esses azuis, amarelos, rios, matos, penetravam nele pela primeira vez, através dos seus olhos. Já não eram feitiço de “Mara”. Deixavam de ser o véu de “Maia”. Não havia mais aquela multiplicidade absurda, casual, do mundo dos fenômenos, desprezados pelos profundos pensadores brâmanes, que rejeitam a multiplicidade, e esforçam-se por achar a unidade. O azul era azul, o rio era rio e, posto que, nesse azul e nesse rio abrangidos por Sidarta, existisse, escondida, a idéia da unidade, o Divino, era, contudo, peculiar do Divino ser amarelo aí e azul lá, céu ali e mato acolá, e também ser Sidarta, aqui, neste lugar. O sentido e a essência não se encontravam em algum lugar atrás das coisas, senão em seu interior, no íntimo de todas elas.
“Andei deveras surdo e insensível!” – disse de si para si, enquanto avançava rapidamente pela estrada. – “Quem se puser a decifrar um manuscrito, cujo significado lhe interessar, tampouco menosprezará os sinais e as letras, qualificando-os de ilusão, de casualidade, de invólucro vil, senão os lerá, estudá-los-á, amá-los-á, letra por letra. Eu porém, que almejava ler o livro do mundo e o livro da minha própria essência, desprezei os sinais e as letras, em prol de um significado que lhes atribuía de antemão.
Chamei de ilusão o mundo dos fenômenos. Considerei meus olhos e minha língua apenas aparentes, casuais, desprovidos de valor. Ora, isso passou. Despertei. Despertei de fato. Nasci somente hoje.
(Fonte)

“Um amigo meu me comprou o primeiro diário cerca de cinco anos atrás. São todos coleções de letras de música, anotações e poemas. Amo viajar com eles agora, acabando um e comprando outro novo. Eu levo eles todos comigo para o estúdio e leio tudo de uma vez só.” – Harry




ACERVO 2: ADORNOS

Conheça o tatuador que lentamente está transformando Harry em uma obra de arte viva.

Quando Liam Sparks e Harry se conheceram em uma partida de futebol em Hackney Wick, Styles já era um fã; ele já tinha visto seu trabalho em um amigo de ambos. “Eu nunca me limitei a tatuar pessoas famosas, mas todos merecemos uma tatuagem.” diz Liam, ” Uma coisa que me fascina sobre as celebridades é o isolamento, e a forma como alguém se torna um semi-deus aos olhos das pessoas, mesmo que ainda seja uma pessoa normal. Então é desta forma que eu trato ele: ele é apenas outro cliente, sério – eu não venero semi-deuses – e ele é muito aberto para as coisas.” Styles retorna sempre de meses em meses para mais e a evolução de seu gosto está ficando clara, mudando de um trabalho aleatório pré-Sparks para uma linda e organizada coleção de arte da tatuagem.

“Nós começamos com uma borboleta em seu torso baseada em uma velha tattoo de uma prisão francesa, inspirada por Papillon. Tradicionalmente, significava que a pessoa com essa tatuagem era um ladrão – algo relacionado ao significado duplo de “Je Vole”, que pode ser traduzida como “eu roubo” e “eu voo” – e é comumente tatuada no pescoço. Então fizemos mais algumas tattoos inspiradas na criminalidade francesa, como as mãos se cumprimentando e as folhas de louro em cada lado de seu abdome, que geralmente é feita no peito e indica que seu dono é um cafetão. Também fizemos um coração, algumas unhas, uma sereia e uma garrafa. Todas clássicas. Muitas pessoas olham para Harry, então ele tem que ter o cuidado de não ficar tão bruto e eu entendo isso, mas ele ainda fará muitas mais. Fazer tatuagem é como uma droga, uma vez que você começou, está nisso pro resto da vida.”, finalizou Liam.


ACERVO 3: ESTUDIO

Com colecionadores devotados como Harry, o pintor Tommo Campbel está mais frenético que nunca… Não que ele esteja reclamando.“Se você consegue fazer as pessoas diminuírem o ritmo e fazer elas pensarem, por mais chato e sem inspiração que soe, isso que é uma boa pintura para mim” diz Tommo.

Com seis telas de Campbell em sua incrível crescente coleção, Harry Styles claramente concorda. Escolhidas em diferentes exposições e visitando a casa do artista pessoalmente, elas representam uma preferência por um trabalho cru e frenético nos mesmos moldes de Cy Twombly e Oscar Murillo, como também uma amizade que cresceu desde que foram apresentados pela cunhada de Campbell.

“Ela era cabeleireira da One Direction e na época me contou sobre quais artistas Harry devia estar colecionando”, ele diz. “Dois anos e meio depois, ele é quem está me mostrando coisas que eu nunca tinha visto antes, então ele é realmente ligado nas coisas, e quando Harry vai ver algum trabalho, sempre pergunta a minha opinião em vez de apenas me dizer o que ele quer. Existe mais um diálogo entre nós sobre pintores e pinturas do que com outros colecionadores que tendem estar focados no dinheiro e peças específicas.”
 E como Campbell tem um genuíno interesse em ver seu trabalho pendurado nas casas das pessoas, vender para amigos como Styles faz isso ser mais do que uma possibilidade – o problema do trabalho ir para grandes coleções de arte, ele diz, é que ele pode ficar apenas no porão esperando por algum vaga no espaço da parede.

     

ACERVO 4: GUARDA-ROUPA

Sexton, um septuagenário devasso de cabelos grisalhos vestido num terno mohair azul, havia marcado de fazer um ajuste de roupas para Harry Styles hoje, mas o superstar está em Paris neste momento. Em sua ausência, Sexton exibe outra jaqueta de Styles confiada a ele pelo diretor de criação da Another Man, Alister Mackie. “Alister escolheu o tecido, que era um Biba vintage e foi um desafio e tanto. É uma seda lamé, incrivelmente delicada e resistente devido às linhas de seda. Este não é um tecido comum, eu posso te dizer”.

Ele não está brincando. Com largas listras art déco — “um pesadelo para alinhar” — e um brilho rock star, o look é inconfundivelmente de Sexton: um linho justo e vaidoso que tem agraciado os ricos e famosos há mais de 40 anos. “Ela tem a minha lapela que é marca registrada, mas nós a fizemos um pouco mais anos 1930. Nosso estilo original é baseado em uma velha hacking jacket*, com ombros incrivelmente justos e lapelas exageradas, mas nós a tornamos interessante com a escolha do tecido. A visão de Alister era uma homenagem a Bowie e ele sabia exatamente o que ele queria; ele tem essa linha rock n’roll atravessando-o”.

[…]

“O jovem Harry está aberto a sugestões. Ele tem um quê de Mick Jagger nele, e ele viu os Stones vestindo nossas coisas nos anos 60. Ele gosta do estilo super-justo e ele tem o corpo ideal para isso. Ele é jovem e magro, o que torna as coisas mais fáceis. Outros clientes querem ter esse visual, mas eu não posso realizar milagres. A ilusão é que é minha praia”



N.T.: *hatching jacket: jaqueta de hipismo ajustada na cintura, com fendas na lateral ou na parte de trás, com bolsos com abas.

ACERVO 5: ÍDOLO

Perguntamos “Quem é seu ídolo?”, Harry – Uma vida inteira devotada ao Fletwood Mac – Não perco uma batida sequer…


“Eu apenas acho a Stevie Nicks realmente muito legal. Nós nos conhecemos e eu estava certo. Ela é legal pra caralho.”

ACERVO 6: PLAYLIST



 Ouça a playlist do Harry feita para a Another Magazine, aqui.